Como já era previsto, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou nesta quarta-feira (20) a redução da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic), que passa de 13,25% para 12,75%. A redução do índice acontece pela segunda vez consecutiva, em meio à pressão de diversos setores da sociedade civil contra os juros altos praticados no país.
Em nota, onde anuncia o novo índice, o Copom aponta para uma continuidade do ciclo de cortes. “O comitê confirma o que o Banco Central já vinha indicando nos boletins Focus, de queda paulatina de 0,50 ponto percentual (p.p.). Com isso, a expectativa é de uma Selic de 11,75% no final de 2023 e de 9% no final de 2024”, explicou a economista da subseção do Dieese, na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Vivian Machado.
Protestos continuam
Com a decisão de hoje, o Copom confirma a mudança da política monetária contracionista, que torna os empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos da dívida pública, iniciada em janeiro 2021 e mantida até agosto de 2023.
“Essa mudança de rumo é positiva, mas, como sociedade civil organizada, como trabalhadores e trabalhadoras, precisamos manter a pressão. Se puxarmos o histórico, veremos que as decisões do Copom são sempre baseadas no mercado e não nos interesses da população e do desenvolvimento do país. Essa inflexão, portanto, é fruto dessa clareza que a população vem ganhando sobre a obrigação dessa entidade nos rumos da economia do país”, avaliou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT Nacional, Juvandia Moreira.
O movimento sindical iniciou, no início do ano, uma série de protestos, incluindo atividades educativas nas redes sociais, sobre como a Selic impacta na vida da população. Entidades que representam a indústria e o governo federal também vinham se manifestando contra a política monetária do BC, de viés contracionista.
Em abril, uma pesquisa realizada pelo Datafolha já mostrava o resultado dessa pressão, quando apontou que 80% dos entrevistados concordam com a pressão que o presidente Lula (PT) fez sobre o BC pela redução da Selic.
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Entenda
- O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país. Neste último encontro (19 e 20 de setembro), a decisão foi pela redução de 0,50 p.p. no índice, que passa de 13,25% para 12,75% ao ano.
- Apesar do corte, que faz com que a Selic alcance o menor índice em 16 meses, o Brasil segue com uma taxa básica de juros elevadíssima e com um dos maiores juros reais (resultado da Selic menos a inflação) do mundo.
- A Selic elevada torna os empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos do Tesouro Nacional.
- Logo, os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras.
- Sondagem realizada pelo Dieese mostrou que cada ponto percentual na taxa Selic significa um aumento anual do custo da dívida pública de cerca de R$ 38 bilhões. Esse valor deixa de ir para educação, saúde ou infraestrutura.
- Em três anos, sob a presidência de Roberto Campos Neto no BC, a Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto deste ano quando, finalmente, o Copom deu iniciou ao ciclo de redução do índice.
- Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria estar no patamar de, pelo menos, um dígito.
- Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos muito mais baixos que o brasileiro. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 4%. Entretanto, o Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada.
- A expectativa do mercado, na próxima reunião do Copom, é de um novo corte de 0,50 p.p. e que, continuando a tendência de corte, a Selic alcance 11,75% no final do ano e um dígito (9%) apenas no final de 2024.